quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Uma Barroquice



Na segunda-feira, um de nossos fantásticos colaboradores não apareceu na redação. Feitas algumas ligações, que no momento foram tidas como urgentes, foi descoberto o seu paradeiro. No domingo, ele tinha cantado uma serenata em frente a casa de uma mulher negra, pela qual havia se apaixonado num samba de periferia. Na manhã seguinte, teve que ficar na cama. Ela, porém, estava resolvida a não abandonar a sua solidão por nada desse mundo.  Desencantado mas tranquilo, ele então lamentou a dor dela da seguinte maneira.

A rainha de Sabá hoje mora
acompanhada só de seus felinos,
lá bem longe, onde esse sino que dobra
já perdeu o que tinha de sombrio.

Como a alba, que pouco se demora
e cede passo logo à luz de estio,
o que há de belo nela desmorona,
em flagrante contraste com o Rio.

A cidade, intacta, permanece,
enquanto ela dentro se desloca
- como a rosa que vive e fenece-
Entre a vida e a morte que não choca.

O calor de tudo sempre arrefece:
da rainha, da flor ou da aurora.