quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Saída de Cena

Um avião que cai e uma doença são ambos argumentos definitivos contra todos aqueles julgam que o homem deveria viver para sempre. Como se a indesejada das gentes fosse realmente tão má, eles se comportam como loucos ao defenderem que os avanços da medicina são a solução para a humanidade. O homem é, por natureza, frágil e exatamente aí reside a sua ascedência sobre todos os animais. Os leões, que são fortes, não precisam se reunir em sociedade para sobreviver. Os ursos, revestidos de pelos, não necessitam de fabricar casacos para se proteger ao frio. As formigas, que nunca se cansam, não têm os seus hotéis. Mas o homem, que não tem as garras do leão, nem os pelos do urso nem a infatigabilidade das formigas, usa sua razão para realizar de maneira perfeita as funções dos outros animais. Se o homem fosse eterno, ele seria um bruto.

sábado, 9 de agosto de 2014

Sistema Cantareira

Uns dizem que o volume disponível no sistema Cantareira é de 400 milhões de litros d`água, enquanto outros afirmam que seriam 511 milhões. Os políticos, é claro, buscam tranquilizar a população divulgando o maior número possível. Os cientistas, entretanto, embora também desejem que ninugém se preocupe com a estiagem, buscam fazer com que a reserva técnica seja respeitada. Esse é o nó da controvérsia. Se o sistema fica abaixo de um nível mínimo, as bombas não teriam como operar de modo que, ainda que houvesse água, ela não chegaria até as torneiras de São Paulo. Se, no entanto, a situação chegar ao desespero, nada impediria que todos fôssem com seus baldes retirar a água de que necessitam diretamente da fonte. Portanto, a preocupação dos cientistas não é tanto com o sistema, mas sim com a comodidade de se ter água encanada.  Esse é o problema com a ciência. Em vez de deixarem claros seus pressupostos, eles simplesmente aderem cegamente a idea de o mundo é necessariamente tão agradável quanto um passeio pelo parque. Eles se esquecem do pecado original do sistema Cantareira, que é o de ser construído para alimentar antes de mais nada a população urbana.  

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Liberdade

Um amigo meu, rapaz muito simples, afirma que Plínio de Arruda não era conservador. Ele foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e, num de seus últimos debates no partido, adotou uma posição macabra. Plínio não seria um conservador porque seria um assassino. É neste ponto, porém, que simplicidade seixa de ser uma virtude para se transformar em algo parecido com espírito de porco. Meu amigo é convervador, embora ele não o confesse abertamente.  E para ele qualquer um que defenda a liberdade como último critério é um progressista. No entanto, a liberdade é um dos pliares não do PT, mas também do PSDB. Se todos os que a defendessem, José Serra, que busca libertar os fumantes do que ele acha um vício e é somente um hábito de sociabilidade, seria um progressista. Ele, porém, é tão conservador quanto o senhor Plínio de Arruda. Ambos querem que os brasileiros sejam livres. O problema é ambos acham que a liberdade é como que ideia platônica. Ele existiria tão somente porque o homem corajoso o suficiente para exercê-la seria o dono das próprias decisões. Ele existiria tão somente porque cada decisão traz consigo inexoravelmente uma responsabilidade. No entanto, a liberdade não é isso.


Outro amigo, que é tão amigo da liberdade quanto da simplicidade, define essa virtude como a capicade de escolher bem. E ele está mais próximo da verdade. Mas mais uma vez uma virtude acaba puxando a outra para baixo. Liberdade não é o poder que todos devemos ao capitalismo de entrar num supermercado e, entre as inúmeras opções de sabonetes, comprar a quem mais lhe agrada. Liberdade é renúncia. E na medida em que alguém, como aquele português que sacrificou a própria vida em nome da igualdade, renuncia a um bem para alcançar outro, ele é livre. Liberdade é a decisão pelo Bem que é único. Plíno Arruda, pelo que consta, plasmou a sua vida neste sentido. Não há outra explicação para o seu sucesso com a nova geração. Um esquerdista é, por definição, aquele que renunciou a tudo menos a política, e se torna, por isso, tão chato que só ficam próximos dele pessoas adultas o suficiente para sempre terem uma segunda intenção. Se ele, por um momento, achou que a reforma agrária era um assunto menos importante que a disposição do próprio corpo, foi por um equívoco em que muitos bons dominicanos já caíram.