O senador Aloyso Nunes foi
escolhido como o vice de Aécio Neves. Em maio, ele se envolveu numa discussão
com o jornalista Rodrigo Pilha, que insinuou que ele seria um ladrão. Quem não
deve não teme. Seria demais, no entanto, afirmar que um sentimento tão vil
achara acolhida no peito do senador. Ele enfrentou o jornalista. Quem correu foi o curioso, que acabou sendo
preso no ônibus pela polícia do Congresso. Aloyso Nunes não é homem de aceitar
suspeitas infudadas.
O
ponto, porém, é que há questões nas quais o único possível é uma suspeita. Uma
delas foi abardodada recentemente pelo meu amigo Leonardo Sakamoto, que se
revoltou contra a ditadura da felicidade que resolveu pôr as garras de fora nas últimas semanas. Qualquer pessoa que
convide um amigo para se divertir espera, é óbvio, que ele aceite. Mas o óbvio
não é suficiente para nós, os revoltados. O óbvio nada mais é que o bom
senso. E só um lunático acharia que o mundo é côr-de-rosa.
Mas,
por outro lado, não há suspeita mais geral do que aquela segunda a qual
felicidade é não só possível, mas obrigatória. Quando Antônio, cuja carne é a
garantia de Shylock, está cabisbaixo, a única coisa infudada é seu motivo para
estar triste. Nem ele mesmo sabe dar a razão da sua melancolia. Quando lhe
perguntaram por que seu olho mareja, ele não responde. Este é o mesmo silêncio
que cala na alma do meu amigo quando alguém o convida para uma festa. Antonio não sabe por que está triste. Meu
amigo ignora por quê estaria alegre. A suspeita, todavia, é de o pessismo não é
somente um tédio. É, antes de mais nada, a razão pela qual todos se revoltam
contra Antônio e meu amigo. A gente não admite que alguém fique morocoxo ao seu
lado por que sua alegria é contagiante, e, se não o fosse, seria falsa.
Porém, todo esse dilema se resolve se partimos do começo. O problema é que a
modernidade começa do fim. Leonardo
Sakamoto, com uma ingenuidade que sem dúvida é uma virtude, afirma que não precisamos ser
salvos. Ora, quando um operário morre na construção do metrô que liga Congonhas
ao Morumbi, ninguém duvida que isso é mal e seria muitor melhor se sua vida
tivesse sido preservada. O que, porém, ninguém disse, é que os habitantes
daquele nobre bairro poderiam ir de táxi ou de ônibus até o aeroporto. O desejo
de fazer coisas grandes, o desejo de realizar atos memoráveis, o desejo de
deixar seu nome inscrito na história é o que leva um engenheiro e um político
se reunirem para furar na terra o caminho de um trem. Se não fosse por isso,
porém, a suspeita da felicidade obrigatória seria um certeza.