quarta-feira, 29 de julho de 2015

Manifesto do Ecologista Feliz

Borboleta Degustando com os Pés

A esquerda se autodestruiu. O gatilho foi o a ideia que identifica no Brasil, como sistema econômico dominante, o patrimonialismo, que significa não o capitalismo industrial, mas sim a mera plutocracia que não produz bens, mas vive de rendas. Eis o alvo! Se no entanto o seu ódio fosse coerente, a esquerda teria se mantido longe dos patrimonialistas, que estavam no poder. Mas não! Influenciados por Antônio Gramsci, eles tomaram a cultura e destruíram a moral com uma mentira deslavada atrás da outra. Não há, porém, vácuo que não seja imediatamente preenchido de ar, e eles tomaram para si mesmos a autoridade moral que haviam destruídos nos outros. Chegando ao poder, ou eles destruíam a economia implantando o socialismo ou se aliavam aos grandes empresários, cujo único cliente rentável é o estado. Optaram estratagicamente pela segunda via sem abrir mão da primeira e decretaram para si mesmos que roubar é lícito desde que seja por um ideal. Essa é a tese de Olavo de Carvalho sobre os últimos anos da política tupiniquim. Isso, porém, não é a essência do problema.

Nos anos sessenta, a juventude brasileira descobriu que a liberdade é auto-determinação para o bem. O bem é algo que antes de mais nada está no intelecto do que na vontade. Pensando em círculo, eles descobriram que o leva o país para frente é a aristocracia da cultura, cujo principal nome, quando o assunto é brasilidade, é Sérgio Buarque de Holanda. A definição de brasileiro que encontraram lá é a do homem cordial, aquele que não sabe dizer não quando o negócio é bom para os dois lados, ainda que não seja estritamente legal. Chegando ao poder, eles tentaram se moldar a esse ideal, e assim aceitaram barganhas que depois seriam a sua derrota. O fracasso do PT é a uma provocação para que se redefina a brasilidade. O brasileiro, no entanto, não está completamente perdido, porque como  cordialidade não é teimosia, sempre há tempo de voltar atrás e retomar o caminho da verdade como expressa na fábula do leão. O rei dos bichanos havia capturado um cervo, que ele, então, não quis dividir com os outros animais, seus companheiros de selva. Ele, por uma privilégio da natureza, era mais forte que todos, e acabou traçando o prato sozinho. Passaram-se os anos, no entanto, e o rei das selvas se viu dominado pela velhice: moribundo, até a raposa ria dele. O leão agonizante é a esquerda, e a raposa boba de alegre é a direita.

Mas a verdade da fábula não é só esta. As categorias de direita e esquerda são grunhidos animalescos com os quais o leitor de jornal tenta identificar nas propostas dos candidatos qual é a mais condizente com o seu temperamento. Se ele é do tipo desconfiado, que consegue descobrir o delito por trás do discurso sobre inovações sociais, vota à direita. Caso seja jovem e ache que o mundo só pode melhorar, vota à esquerda. O progresso, no entanto, não é a invenção de novas sociedades, mas sim o fazer dessa poluição toda um lugar mais habitável. A sustentabilidade é o único modo de faze do planeta um lugar melhor, onde nem a raposa ri da desgraça do leão, nem o leão toma todo o bem que consegue só para si. Ambos caminham juntos em meio ao verde, que é de todos por não ser de ninguém.

Acontece o mesmo com o quintal de uma casa, onde todos brincam e a responsabilidade pela ordem do recinto não é bem-definida.  A origem da família, porém, não está na horda, que é um agrupamento desregrado cuja finalidade é a diversão inconsequente, mas sim a comunidade que os antropólogos chamam de clã e são a primaiada cujos laços remontam a um ancestral comum. A família como comunidade, assim, tem um princípio único. E isso, que é verdade para o clã, também o é para a união entre o homem e a mulher da vida moderna. Embora seja comunitário, o amor entre os esposos não é uma instituição totalmente objetiva, que tem a impessoalidade como marca. Ele, dentro de si mesmo, possui uma hierarquia, que na maior parte das vezes cabe ao marido, mas talvez nem sempre seja assim. A mangueira do quintal pode ficar enrolada ou no meio do caminho, toda  furada, irrigando a grama. Enfim, essa hierarquia entre esposo e esposa não é rígida, mas, se não houver, a comunidade familiar se transformaria numa anarquia, o que significa ser preciso que um dos dois aceite as ideias do outro e ceda. O homem e mulher, antes de educarem os os filhos, educam a si mesmos. A razão de ser de toda pedagogia familiar são, todavia, sempre as crianças. 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A Tragédia da Teoria

É sempre uma posição a ingrata a do árbitro autonomeado. Se, num jogo de futebol, o juiz, designado por alguém imparcial, já padece sob as calúnias infundadas sobre a honestidade de sua mãe, aquele que quisesse apitar o jogo por vontade própria, com mais razão seria vítima da pouca caridade alheia. No entanto, um empresário, por exemplo, que resolvesse investigar as relações familiares de seus empregados, buscando aí um vício que prejudicaria o o trabalho dele, ainda estaria no âmbito no profissionalismo. E é exatamente aí onde muitos homens de negócios erram e burocratas acertam. Porque, se na sociedade não houvesse um certo intrometimento na vida alheia, sempre haveria uma desculpa para que a tolerância fosse posta de lado. Não haveria tolerência, mas somente indiferença. Quando, então, o governo proíbe o jogo do bicho, isso não é uma intervenção indevida. É, antes, aplicação prática de uma teoria da qual ninguém discorda: se a riqueza é produto do mero acaso, ela também fortuitamente pode sair de uma mão e ir para outra. E a fortuna, que dá hoje a um o que antes era do outro, não passa de uma ladra que sempre comete o crime perfeito.

Fortuna

No debate público brasileiro, há hoje dois partidos: o dos que acham que mercado é quem premia e castiga e o dos que acham que a fortuna pode ser reduzida à vontade humana. O mercado, todavia, é algo muito parecida com a fortuna. Paulo Coelho, por exemplo, é um literato muito inferior a Diogo Mainardi. E, no entanto, vende muito mais livros. Do mesmo modo, os médicos são muito mais úteis à sociedade do que alguns magnatas que estão por trás de grandes empreendimentos ingovernáveis. A conciliação entre essas duas partes só é possível a partir dos fatos, que nínguém, salvo os idealistas, contestam. E, no entanto, é exatamente aí que os idealistas estão certos e os homens práticos divididos em partidos estão errados. Um dos axiomas desses filósofos herdeiros de Descartes é que a descrição da sociedade é tão mais precisa quanto mais matemática for. A matemática, porém, não é tudo. Quanto vale um homem? Diogo Mainardi vale mais que Paulo Coelho, porque um pobre vale muito mais do que um homem rico. E Paulo Coelho vale mais que Diogo Mainaridi porque um literato não vale nada se não houver alguém a para lê-lo A lição, porém, que ninguém nunca aprenderá por completo é que a realidade, antes de aprendida por alguém, foi caprichosamente moldada por um sucessão incontável mas finita de causas.

A metafísica dos acidentes de trânsitos é um exemplo vivo de que a especulação sobre as causas finitas é infinita. Todo acidente nada mais é do que uma coincidência de finalidades. A coincidência, no entanto, é uma sorte, que é o apelido que os otimistas dão à fortuna. Nela há o encontro de duas verdades práticas conflitantes. É assim que um Hamlet, dirigindo pelas ruas de São Paulo, descobre que a via necessária para sua missão é aquela que está imediatamente à sua direita. Ele, porém, ao ter esta eureca, estava, como de costume, meditando sobre a vida da maneira menos prática impossível: entre uma faixa e outra. Entre ele o seu desiderato, havia um ônibus que só não carregava Paulo Coelho porque o mercado – e não há nada de errado nisto - lhe deu dinheiro suficiente para só andar de táxi. Se, no entanto, ele estivesse lá, pagando ao trocador a sua passagem, a freada do ônibus teria feito com que ele caísse e quebrasse a mão. Essa mão, que não vale nada nem para mim nem para ninguém, é muito apreciada pelo Paulo Coelho, que então seria tomado de uma ira justa contra Hamlet. Ambos, dentro de sua própria cabeça, estariam certos. A diferença é que Hamlet, sendo um herói, teria parado o carro e pensado sobre a sucessão finita de causas do acidente: a bondade de cumprir a própria missão, a pressa do motorista para chegar à garagem e a imprudência do passageiro, que, podendo estar sentado, estava de pé.  E Paulo Coelho só escreveria um livro pseudomístico sobre os poderes inefáveis da mão quebrada de um mago.

A circunspecção é o que salva Hamlet e Paulo Coelho. É preciso olhar para o todo antes de fazer o particular. Se, no debate público brasileiro, o todo, nas suas infintas formas, fosse levado em conta, ninguém se espantaria de descobrir na regulação da sociedade uma verdade prática inegável. E essa é a de que a garagem não é um fim último do homem, e que Paulo Coelho, Diogo Mainardi e os inúmeros Hamlets brasileiros se beneficiam muito de uma fortuna que, em vez de cometer o crime perfeito, provoca as melhores coincidências dando aos pobres o que é deles e aos meditabundos a possibilidade meditar na vida dentro de um táxi para que não atrapalhem os outros. Isso, porém, seria o ideal, que a prática talvez contradiga.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A Única Saída


Cerco que se fecha
Mônica Bérgamo conta o que depoimento de Júlio Camargo na Lava-Jato é devastador. Trata-se de um recado enviado ao Congresso. O depoimento comprometeria Eduardo Cunha, que portanto deveria tentar alguma troca de favores com Dilma para que ela intervenha. Isso, porém, é praticamente impossível, porque o Sérgio Moro é bastante independente. A única solução seria trocar o Rodrigo Janot por outro procurador que fizesse vistas grossas quanto aos desmandos dos poderes executivo e legislativo.

As contas da Dilma serão julgadas em breve pelo TCU. O presidente do Tribunal é Aroldo Cedraz, que recebeu propina de Ricardo Pessoa. Além disso, seu filho advoga junto ao tribunal, o que pode lhe render vantagens indescritíveis e ilícitas. Aroldo pai buscava esconder o seu nome, usando o dinheiro extorquido através de uma empresa que constituiu com sua mãe.

O discurso da pilantragem é dizer que não sabia de nada. Não sabiam que pedir dinheiro para uma empresa que tem contratos milionários com eles é uma espécie de esmola forçada. É, por exemplo, o que disse José Cardozo em seu depoimento à CPI da Petrobrás: a presidente da República não saberia que a origem do dinheiro era ilícita. A ciência, de fato, do ladrão não é a mesma ciência do cidadão.
O cidadão oriundo da Revolução Francesa sabia que algo era ilícito porque o código lhe dizia. Neste sentido, Dilma, sendo economista e nunca tendo pegado num Código Penal, pode se dizer ignorante da proibição de roubar. Isso é a ciência do direito positivo, que é muito parecida com a ciência do Professor Gerardo Furtado. Ela parte do axioma e manda às cucuias todo o bom senso. O axioma é que só existe a lei positiva. O bom senso, todavia, é que o crime não compensa. E isso ninguém ignora.

A única solução, portanto, é que os políticos apoiem a investigação e digam tudo o que sabem. Os cínicos sem dúvida a chamam de utopia. Há mais ingenuidade, porém, em achar que toda a roupa suja será lavada por meio de argumentações legais, que ninguém do povo entende, do que em posar de vilão arrependido. Tosltói, nesse ponto, quase enganou a humanidade. O arrependimento não é a causa do suicídio de Anna Kareninna, mas sim a loucura de não olhar para trás e ver que o que poderia ter sido diferente ainda pode.




quarta-feira, 15 de julho de 2015

Raposas e Fiscais


Contam que uma raposa um dia caminhava pela Paulista e viu o seu reflexo numa vitrine. Ela havia conseguido, na parte de trás de um restaurante chique, o seu almoço. Caminhando lentamente pela Paulista mastigando o resto de rosbife, ela olha para o lado e vê, numa vitrine, uma raposa muito mais bonita, e com ainda outra diferença. Ela estava mastigando não um rosbife mais apetitoso, que de repente cai no chão. Era a própria raposa que, tentando abocanhar o da vitrine, perdera o seu pedaço de carne pisado por um pedestre apressado.
Fiscal no Espelho
Ver o seu reflexo na realidade é próprio do fiscal. Longe de mim criticar uma profissão tão necessária à sociedade. Ela, no entanto, desvia-se frequentemente para mera burocracia como aconteceu recentemente com ofuncionário do MEC que resolveu pedir a lista de bibliografia produzida por uma faculdade de Filosofia. Isso é como pedir a Platão que colocasse por escrito os seus ensinamentos. Ainda que ele não os tivesse, ele não seria menos filósofo por conta disso.  A atividade fiscalizadora, no entanto, não é exercida somente por funcionários públicos. Lindbergh Farias também é fiscal ao fazer política interna no PSDB. Apesar de político, ele não deixa de ser um camarada virtuoso. Na sua coleção de méritos, todos os outros se escondem sob o da discrição. Quando ele soube que a Petrobrás tinha virado espólio, ele fechou a boca. Uma vez, um jornalista lhe perguntou se ele sabia alguma coisa sobre a possibilidade de impedimento da presidente da República, e ele, como de costume, desconversou dizendo que a pizza já estava no forno e que ninguém queria que a apuração terminasse. É impossível ver no discurso de Lindbergh algo mais do que palavras lançadas ao vento com a displicência de um homem simples, consciente de que a atividade política é um trabalho tão longo quanto o de Sísifo.

O mesmo, porém, não acontece com a delação de Paulo Roberto da Costa contra Lindbergh. Sua fala foi motivada ou pelo ressentimento  contra um esquema de corrupção que lhe rendia pouco ou pela sede de justiça. Se foi o primeiro, trata-se de uma mentira contra a reputação de Lindbergh, que partiria o bolo pegando o maior pedaço para si. Se foi a segunda, trata-se de uma verdade e Lindbergh Farias faz de tudo para escamotear a corrupção na Petrobrás, sendo ele mesmo o membro do PSDB que quer abafar a investigação. Um abafamento, no entanto, consiste  o cargo e os estipêndios dos detetives. Isso, porém, é improvável que aconteça porque a mídia está de olho.

Mas e se Lindbergh é um herói? Ele seria a vítima da mentira deslavada de um delator que, pasmem, inventou uma história maluca somente para se ver livre da cadeia. Um amigo meu cultiva essa teoria. Isso, porém, é conto de fadas de quinta categoria. Se os delatores, além de terem vários indícios contra si, mentissem ao juiz, eles atrairiam para si a ira justa do povo. Essa opinião é como acreditar que a raposa, tendo visto a carne jogado no lixo, tivesse procurado o cliente de regime para lhe dar seus agradecimentos. Há raposas que viram gente, mas esse parece ser o antes o caso do Michel Temer. Seu discurso sobre a tranquilidade institucional da democracia brasileira é um sopro de poesia em meio à aridez das notícias de corrupção. O ponto, todavia, é que a justiça das instituições é cega, e seria capaz de condenar inocentes e livrar culpados. E não há poesia que substitua uma visão clara sobre o que realmente atrapalha a vida dos brasileiros. Não é a falta do dinheiro surrupiado na Petrobrás. É o medo de serem enganados por políticos que chamam de democracia a agenda das minorias cuja pseudo-filosofia é que não haveria verdade alguma. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

A Dança das Galáxias

A modernidade é um caso de polícia. Muitas vezes, no entanto, a turma da ordem trabalha tão bem que é impossível não lhe jogar um confete. É assim que os bandidos mais perigosos dessas bandas, que na frente da platéia bancam o Robin dos Bosques, mas não passam de coringas, estão com o caminho pavimentado rumo ao mais desumanos dos estabelecimentos. A desumanidade da prisão, no entanto, é a multidão de homens que se acumulam no mesmo metro quadrado. Um homem é um homem, mas vários homens juntos são violentos como uma alcatéia. No entanto, se os infelizes recebessem na prisão o tratamento que não receberam em casa, sairão de lá mais alegres como o Tiririca. E a máquina do mundo, tendo girado mais vez, entregaria à posteridade uma raça renovada.
A proganda oficial, no entanto, afirma que a máquina do mundo não erra nunca, que seu funcionamento é sempre garantido, e que, se há algum problema, a assistência técnica o resolveria da noite para o dia. Não há, todavia, nenhuma garantia de que, preso Robin Hood, não haja mais nenhum vilão. É perfeitamente possível, dentro da engranagem, que uma peça que andava para frente começasse a girar para trás e todos nós regredíssemos àquele paraíso, em que tudo era de todos, e não havia nenhuma divisão de classes. A diferença, no entanto, é que o mito moderno, em vez de ser uma memória, é um projeto que nega as divisões entre os homens porque antes lhes priva das suas diferenças. E uma das verdades dos mitos antigos está  na afirmação de que a única diferença intolerável era a de Polifemo, que tinha um olho só. É impossível ver a realidade em todas as suas dimensões quando se tem somente uma ideia, e todo fanatismo é baseado na opinião de que Polifemo enxerga melhor que Ulisses, o que não só um erro estético, mas sim um desvio de consequências cosmológicas.
Os astros estão todos alinhados numa ordem que se parecem muito com a de um engenheiro que planeja uma cidade, se por um momento desconsiderarmos que o universo é mil vezes mais complexo.  No entanto, há uma espécie de desvio que faz com que algumas galáxias próximas à Via Láctea estejam capriochosamente curvadas. A explicação mais aceita  é a de que a teia de matéria escura que constitui a geometria invísvel do universo não é retilínea por uma infinidade de razões. Um caubói australiano, no entanto, que atende pelo nome de Pavel Kroupa, resolveu por bem que toda essa disposição irregular foi causada por um acidente no percurso da Terra até o lugar onde hoje se encontra. As duas explicações não são mutuamente excludentes. O bom senso de uma aponta a causa do fenômeno que a matemática da outra descreve. O Polifemo moderno, no entanto, não admite que, além do fenômeno, haja uma sucessão bem definida de causas.
Ptolomeu Barroco
Há quem diga que Descartes é a causa dessa e de outras tragédias contemporâneas. Ele, no entanto, é uma vítima da tentativa frustrada de abandonar os universais em troca de uma certeza tão rasteira quanto falsa. O maior acidente de percurso da história da filosfia, porém, foi Ockham, que achava que, dentre duas explicações, a mais simples é superior à mais complexa, como se esta não fosse formada por várias daquelas. E quanto mais melhor! No entanto, a navalha de Ockam corta fora o supérfluo em nome da brevidade. E Pavel Kroupa, de fato, não teria conseguido levar a sua tese adiante se ela não fosse, além de certeira, simples, que é uma das virtudes da modernidade. E o que diz, trocando em miúdos, é que a matemática, se serve para alguma coisa, não é para traçar um folha quadriculada e obssessivamente tentar fazer com que o universo se encaixe nela. Ela serve, antes de mais nada, para descrever o mundo antes e depois de um movimento. Se este como hipótese não é científico, o problema é dos cartesianos, e não de Kroupa.
Descartes, no entanto, é o efeito colateral de uma sacada tão genial que quase poderia ser comparada com a de permitir um desvio na linha das galáxias. Um dos nós górdios da filosofia é explicar como a lógica que não existe no mundo foi parar nos computadores dos adversários de Kroupa.  E a resposta do Filósofo é que se essa lógica das causas é de fato incompatível com a da maioria, não é o universo quem está errado, mas sim quem acha que sua cabeça é maior do que Via Láctea. E que, todavia, é perfeitamente possível que a cabeça de Louis Pasteur seja maior do que a de todos os seus coleguinhas juntos. O novo Louis Pasteur, no entanto, é mesmo Kroupa, que viu nas estrelas brilhar o sempre novo aristotelismo das causas com uma evidência de que nem Descartes, fechado no seu quarto e contemplando o fogo transformar a cera, foi capaz.
O fogo é de fato o melhor exemplo de que nada nessa vida é eterno. Os bombeiros o conhecem pela prática. O problema, porém, aparece quando alguns cientistas, muito competentes em astronomia, afirmam que tudo o que eles fazem é no sentido de aumentar o domínio sobre a natureza e fazer mais telefones celulares e quejandos. O mundo moderno, porém, está cansado de novas tecnologias. Como uma máquina poderia explicar que, em meio à imensa ordem dos cosmos, há algumas galáxias fora de lugar? A astronomia, porém, não é uma ciência que começa de baixo e sobre numa escalada ascedente rumo ao infinito. Pelo contrário, há um infinito nas coisas aqui de baixo que permitem perceber como os astros lá em cima se movem. Kroupa não aprendeu que havia movimento olhando para o céu, mas sim percebendo que há uma força indomável na natureza que não só faz com que rosas brotem no asfalto, mas também que a trajetória dos astros sejam alteradas.