quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A Condescendência dos Gigantes

 

Uma turma de arruaceiros vai até o centro da cidade e resolve pichar o prédio público mais importante da cidade. Antes eles chegariam de madrugada e, entre uma risadinha e outra, fariam o humor contra o qual não há resposta porque não é necessária nenhuma. Hoje, felizmente, o anonimato foi deixado de lado, e bastaria que os jornais comentassem o fato para que todos vissem que por trás da piada se escondem os mesmos pedantes de sempre, que identificam liberdade com o assassinato. Se a população de São Paulo não tomar nenhum atitude, a mensagem é clara: o jornalismo também está morto. Se a influência na opinião pública não for possível agora, quando há claramente uma maioria que é a favor dos bebês, é porque a única razão de ser da Folha de São Paulo e do Estadão é uma chatíssima crítica anti-democrática.

A época do periodismo talvez já tenha passado. Foram-se os dias em que o pai, antes de sair para o trabalho, sentava-se para se informar sobre que está acontecendo no mundo através do jornal. Se ainda há quem resista bravamente, saiba que somos um grupo cada vez menor porque a simplicidade tende a tomar conta de tudo. É muito complicado averiguar, dentre os vários colunistas, quem emitiu a opinião certa. No entanto, no debate que ultimamente opõe os dois lados do Brasil, não é difícil encontrar a verdade. Os que dizem que a solução nacional está numa visão pragmática dos problemas claramente deixam a desejar. O sr. Felipe Zanisque, cidadão comum,  não precisa de fato de uma teoria para entender que o melhor não é andar de carro movido a petróleo. O mais produtivo seria trocar o ouro negro pelo combustível feito a base de cana-de-açúcar. Isso seria mais barato, o que é eminentemente uma razão prática. No entanto, esse sendo comum se apóia na tese de que a pobreza é preferível à riqueza, e isso é uma opinião que só faz sentido sentido dentro de uma teoria da família. Em escala nacional, sempre há um gênio que propõe emitir mais moeda para tornar o país mais rico, como se o que interessasse fosse o ouro negro, branco ou amarelo, e não a sua utilidade.

O bravo que seguisse lendo os jornais, todavia, poderia até chegar a essa conclusão, mas o caminho não seria facilitado pela imprensa, que virou uma vitrine onde cada um só se preocupa se a sua opinião é bonitinha. E o mais bonitinho seria não pensar, mas deixar-se levar pelas modas, que, quanto mais científicas, melhor. E a ciência verdadeiramente resiste tenazmente, se não como os solitários adeptos do periodismo, ao menos como uma manada. Dobrar-se ao consenso científico, porém, é como ser um gigante que aceita o desafio de um pigmeu. E o pgimeu em questão, em vez de buscar as origens, preocupa-se antes de mais nada com selecionar os fatos principais da parte que lhe cabe no latifúndio acadêmico. O perigo dessa condescendência é que algumas fazes um anão acredita nas bravatas que lança contra os gigantes.

Uma dessas bravatas é a de que a ciência explica tudo. No entanto, se o fatos não foram bem selecionados, a teoria pode muito bem servir a um propósito prático, mas dificilmente seria capaz de dar conta de toda a experiência, aí incluída também a dos pigmeus e a dos gigantes. O evolucionismo já é tão batido que não vale mais a pena insistir no assunto. Ao invés dele, tomemos como exemplo a ideia bastante difundida de que não existem culturas inferiores e superiores, mas todas seriam pedras preciosas que a Unesco deveria preservar. O principal fato selecionado aí é o pigmeu. Se a coisa é feita por um homem, seja ele quem for, isso basta para receber o carimbo de sacrossanto. Os homens, porém, por mais bravos que sejam, são capazes de erros como o do periodismo ou o de querer superá-lo com uma técnica, que, ao fim e ao cabo, também será caduca.

João e o Gigante

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