terça-feira, 15 de março de 2016

A Beleza do Faustão


A festa da democracia ainda nem começou, mas os preparativos são promissores. O ex-presidente Lula disse que só saía de sua casa algemado, como qualquer outro meliante. Como, porém, esse tipo de passeio não orna a reputação de ninguém, alguns poucos petistas foram às ruas para demonstrar a sua adesão inquebrantável ao anjo caído. E, numa de suas investidas, invadiram uma propriedade da família Marinho que está no nome de um estrangeiro. Eles teriam, mais uma vez, desmascarado a Rede Globo. Não haveria diferença entre conglomerado televisivo e aquele que, como economista, é um bom metalúrgico. Isso, obviamente, é papo-furado. A empresa carioca, no entanto, tampouco é uma vítima inocente.

Ela mesmo admite já ter feito das suas ao apoiar o regime militar. No entanto, o delito cometido pela Rede Globo não é o ter defenestrado os marxistas e afins, mas sim o mesmo em que incidem, quotidianamente, milhares de brasileiros. Um membro dessa preciosa raça acontece de tossir ao ar livre, no meio da rua, num dia em que o vento é impetuoso. Ninguém o recrimina de nada, mas, se alguém ameaça fazer cara feia, ele pede desculpas. Quando, porém, essas delicadezas passam a ser demasiado oficiosas, algo maior não vai bem. Se a Rede Globo sente muito por ter apoiado a revolução de 1964, o melhor seria esclarecer que, naquela conjuntura, não podia fazer mais. Não é uma bela ação, mas seria pior ainda a omissão. A grande confusão seria achar que, por alguém ter pedido desculpas por algo inocente, ele deveria estar arrependido do ato em si. Pedir desculpas por tossir, porém, não chega a ser um delito, mas somente uma má-compreensão da etiqueta. O crime da família Marinho é o que está por detrás dessa aparente questão menor.

Assim como acontece com a casa invadida, parte do apartamento usado por Lula tem como proprietário um terceiro. Isso, por si só, significa uma simulação, que, no entanto, é inócua tanto quando realizada pelo líder petista como quando feita pelos barões de Jacarepaguá. Porém, ao contrário do que acontece na esfera privada, a simulação governista é um indício de que o dinheiro para comprar as propriedades vieram de algum meio que seria politicamente incorreto admitir. É bastante diferente do que acontece com a TV Globo. Os petistas gostariam de passar uma imagem de honestidade, e a empresa midiática, há já alguns anos, esforça-se para ser conhecida pela sua sem-vergonhice. Há algo mais indecoroso do que vender a intimidade de uns coitados cujo único talento é a mediocridade de não ter nada para oferecer ao público além da indecência? O ato nefando da TV Globo é este: ela inverteu o pudor. É vergonhoso lucrar com a privacidade alheia, mas ninguém em sã consciência se envergonharia de possibilitar a festa que a ditadura do proletariado teria impedido.


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