domingo, 7 de agosto de 2016

Um Limite da Boa Educação



Há certos assuntos que, ainda que necessários, devem ser tratados com uma máscara anticontágio. Flávio Morgenstern, resistindo à tentação da indiferença, já disse quase tudo. O tratamento midiático do caso Biel é estranho porque, à primeira vista, parece ser algo bem intencionado. No entanto, é um delito em que, como diria Girard, a mão direita não sabe o que faz a esquerda. E o que a esquerda faz é relatar o assunto como se fosse um caso pertinente somente às leis promulgadas pelo Senado Federal, depois de um longo processo e infinitas discussões técnicas, e não algo bem mais simples.

Biel, depois de assediar uma jornalista, perdeu a fama. Saber qual foi a razão última pela qual o funkeiro não é mais uma celebridade é algo que ultrapassa em muito a capacidade de um blogue. No entanto, uma coisa é facilmente identificável em meio às notícias sobre o tema. Biel dividia as pessoas em duas categorias: as interessantes e as desinteressantes. Distinguir um cavalo de outro é algo que pode ser feito sem maiores problemas, mas mexer com seres humanos e sair impune não é tão fácil. E, ó ironia!, foi alguém tida por ele como interessante que lhe mostrou isso.

A indignação geral da nação, no entanto, é um pouco exagerada. Se a carreira de Biel tivesse sido sacrificada em troca do apreço pelo pudor, qualquer hipérbole estaria justificada. No entanto, não foi assim. Além disso, há uma atenuante silenciada. Quando disseram ao Biel  que ele podia bancar o bom selvagem, ele acreditou por pura inocência. Quem, desde a década de setenta ousa dizer publicamente que sexo pode ser uma tragédia? Ninguém. A próxima vítima, obviamente, será a educação, como se essa pudesse resolver o problema. Podem dizer que, no final das contas, era o professor ou o pai de Biel que tinham o dever de lhe ensinar as regras de como se comportar com a elite intelectual do país, que, no momento, faz e desfaz a opinião pública segundo a agenda do gênero. A tática do discurso é claramente dar peso à vontade individual e tirar importância da ética. Assim, o professor de Biel deveria ter explicado que o consentimento é tudo. A educação, porém, não é o remédio.

A vítima principal do caso é uma jornalista, mulher e, se não fosse pela lei, indefesa. O que mais impressiona nas suas falas é que não foi a falta contra a virtude do pudor a razão pela qual ela se sentiu ofendida. À sem-vergonhice de Biel ela poderia, tranquilamente, ter oposto uma defesa do respeito mandando-o por exemplo voltar para o chiqueiro de onde escapou ou qualquer outra resposta nesse estilo. No entanto, ela é um vítima completamente ingênua, como mais um bom selvagem que ignora o pecado original. De fato, a senhorita admitiu que, antes do assédio, foi simpática com seu algoz. A julgar pelo desfecho, ou ela de fato não queria nada além de uma entrevista ou ela se arrependeu logo que viu de perto a fera. Portanto, o único motivo pelo qual ela foi simpática é justamente a boa educação. Ser civilizado às vezes facilita a invasão dos bárbaros.

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