segunda-feira, 22 de junho de 2015

João de Humelaga

Um rapaz que cursava odontologia foi obrigado – do contrário, ele não se formaria – a se inscrever numa disciplina de biologia. No primeiro dia de aula, ele sinceramente disse ao professor que as lições seriam tão úteis para ele quanto plantar batatas. O mestre, então, diante da ignorância, respirou fundo e permitiu resignadamente que ele não frequentasse as classes. No entanto, passou-lhe um trabalho. Ele deveria observar alguns peixes dentro de um aquário e fazer relatórios sobre o que acontecia. Nos primeiros meses, as observações se limitaram à nutrição dos bichos, e o professor se mostrou insatisfeito. No fim do semestre, porém, o aluno tomou as notas que lhe valeram a aprovação. Tendo ficado acordado até mais tarde estudando, ele cochilou e seu braço derrubou a luminária. De repente, todos os peixes, que estavam imóveis, correram para a luz. Os fótons atraíam os animais quando a sua fonte estava colada à parede de vidro, mas quando procediam da janela ou da lâmpada no teto, o mesmo não acontecia. Havia já um problema, uma pergunta teórica que poderia ser respondida teoricamente.

No imbróglio da pesquisa com células-tronco, a observação palmar, simples e acessível a qualquer um é a de que duma única célula surge o corpo inteiro do seu João de Humelaga. E o pseudo-fato é que as células-tronco adultas não seriviriam. Hoje, depois que o STF cedeu à chantagem emocial de alguns pseudo-cientistas, a opinião aceita é a de que servem. Não havia um problema teórico a ser resolvido, mas uma vontade louca de agir. Mas os pseudo-cientistas, com o rabo entre as pernas, admitem que haviam errado, que haviam se precipitado, que, antes de virem a público com a promessa de uma panacéia, deveriam ter feito mais observações. E aí teriam visto que as células-tronco adultas são viáveis para o experimento que pretendiam, que os embriões poderiam ter sido deixados em paz, que o senhor João de Humelaga poderia ter nascido e estar solto no mundo, vivo e alegre.Ciência é  observação

Esse, porém, não era o método do nunca assaz louvado Pasteur. Antes de propor a teoria do germe, ele tinha alguns fatos que qualquer um poderia ver com os próprios olhos. O primeiro era que a multiplicação de micro-organismos não dependia do oxigênio. O segundo era que essas pequenas vidas, como as grandes, não resistiam a uma temperatura elevada. O terceiro era que esses seres hipotéticos tinham um certa massa. A diferença entre estes e o fatídico fato dos pesquisadores que prometiam o que não podiam cumprir é esta: os acidentes dos mircróbios já haviam sido observados quando a explicação foi proposta, mas a tese do quanto mais jovem melhor não passa de uma expressão bonitinha, mas ordinária. Não era um fato contemplado, mas sim uma hipótese a ser refutada à custa de outras pessoas.

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