quarta-feira, 15 de julho de 2015

Raposas e Fiscais


Contam que uma raposa um dia caminhava pela Paulista e viu o seu reflexo numa vitrine. Ela havia conseguido, na parte de trás de um restaurante chique, o seu almoço. Caminhando lentamente pela Paulista mastigando o resto de rosbife, ela olha para o lado e vê, numa vitrine, uma raposa muito mais bonita, e com ainda outra diferença. Ela estava mastigando não um rosbife mais apetitoso, que de repente cai no chão. Era a própria raposa que, tentando abocanhar o da vitrine, perdera o seu pedaço de carne pisado por um pedestre apressado.
Fiscal no Espelho
Ver o seu reflexo na realidade é próprio do fiscal. Longe de mim criticar uma profissão tão necessária à sociedade. Ela, no entanto, desvia-se frequentemente para mera burocracia como aconteceu recentemente com ofuncionário do MEC que resolveu pedir a lista de bibliografia produzida por uma faculdade de Filosofia. Isso é como pedir a Platão que colocasse por escrito os seus ensinamentos. Ainda que ele não os tivesse, ele não seria menos filósofo por conta disso.  A atividade fiscalizadora, no entanto, não é exercida somente por funcionários públicos. Lindbergh Farias também é fiscal ao fazer política interna no PSDB. Apesar de político, ele não deixa de ser um camarada virtuoso. Na sua coleção de méritos, todos os outros se escondem sob o da discrição. Quando ele soube que a Petrobrás tinha virado espólio, ele fechou a boca. Uma vez, um jornalista lhe perguntou se ele sabia alguma coisa sobre a possibilidade de impedimento da presidente da República, e ele, como de costume, desconversou dizendo que a pizza já estava no forno e que ninguém queria que a apuração terminasse. É impossível ver no discurso de Lindbergh algo mais do que palavras lançadas ao vento com a displicência de um homem simples, consciente de que a atividade política é um trabalho tão longo quanto o de Sísifo.

O mesmo, porém, não acontece com a delação de Paulo Roberto da Costa contra Lindbergh. Sua fala foi motivada ou pelo ressentimento  contra um esquema de corrupção que lhe rendia pouco ou pela sede de justiça. Se foi o primeiro, trata-se de uma mentira contra a reputação de Lindbergh, que partiria o bolo pegando o maior pedaço para si. Se foi a segunda, trata-se de uma verdade e Lindbergh Farias faz de tudo para escamotear a corrupção na Petrobrás, sendo ele mesmo o membro do PSDB que quer abafar a investigação. Um abafamento, no entanto, consiste  o cargo e os estipêndios dos detetives. Isso, porém, é improvável que aconteça porque a mídia está de olho.

Mas e se Lindbergh é um herói? Ele seria a vítima da mentira deslavada de um delator que, pasmem, inventou uma história maluca somente para se ver livre da cadeia. Um amigo meu cultiva essa teoria. Isso, porém, é conto de fadas de quinta categoria. Se os delatores, além de terem vários indícios contra si, mentissem ao juiz, eles atrairiam para si a ira justa do povo. Essa opinião é como acreditar que a raposa, tendo visto a carne jogado no lixo, tivesse procurado o cliente de regime para lhe dar seus agradecimentos. Há raposas que viram gente, mas esse parece ser o antes o caso do Michel Temer. Seu discurso sobre a tranquilidade institucional da democracia brasileira é um sopro de poesia em meio à aridez das notícias de corrupção. O ponto, todavia, é que a justiça das instituições é cega, e seria capaz de condenar inocentes e livrar culpados. E não há poesia que substitua uma visão clara sobre o que realmente atrapalha a vida dos brasileiros. Não é a falta do dinheiro surrupiado na Petrobrás. É o medo de serem enganados por políticos que chamam de democracia a agenda das minorias cuja pseudo-filosofia é que não haveria verdade alguma. 

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