Além dos indícios da traição militar ao povo brasileiro, que os procuradores investigam, havia um disco rígido que despareceu. O computador apermaneceu intacto, tendo sido subtraída somente sua memória. Ou aí estavam contidas informações prejudiciais à causa da revolução de 64 ou dados que lhe aprovveitariam. De qualquer modo, era uma questão que o próprio coronel, o único capaz de exumá-la, queria morta e enterrada. As águias do Ministério Público, todavia, tomaram o assunto para si, e o disco rígido talvez serviria para lançar mais luzes sobre o caso. A pergunta, porém, não é se a causa da vingança contra a ditadura pode ou não ser levada a cabo com sucesso. O que, antes de qualquer coisa, seria interessante saber é se há algum sentido em levá-la para frente. Paulo Malhães talvez devesse ter entregado à comissão as informações dos anos de chumbo. Mas obrigá-lo a isso seria forçá-lo a dizer algo contra seus amigos de longa data. O interesse público, porém, nunca justifica um mal privado.
O que nem o caseiro nem ninguém mais quer é o que acontece. Informações que não servem senão para colorir de negro o passado do país virão à tona. Manter as aparências não é só algo conveniente. As aparências são a asalvaguarda da verdade. A mancha que haverá nos livros de história da próxima geração não serão o verde e amarelo da bandeira nacional, mas sim o vermelho do sangue dos torturados.
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