sábado, 24 de maio de 2014

As cores do livro de História

Paulo Malhães era um coronel do exército que cometeu o terrível crime de tortura. Não há nada que explique suas ações fora do exército. A disciplina militar é algo de que os civis ou não capazes, como é o meu caso, ou algo que eles desprezam, como parece ser o caso do senhor Wahdir e dos respeitáveis senadores que foram interrogar o caseiro.  Este teria mentido porque seu projeto não era somente roubar as armas do coronel, mas também queimar os arquivos que incriminariam altas patentes da caserna.  De fato, seu intuito não era somente lucrar com a venda das armas para o tráfico de drogas fluminense.  Postos a perscrutar o imperscrutável, diremos que sua finalidade era dar as provas que Paulo Malhães sonegou à comissão.

Além dos indícios da traição militar ao povo brasileiro, que os procuradores investigam, havia um disco rígido que despareceu.  O computador apermaneceu intacto, tendo sido subtraída somente sua memória.  Ou aí estavam contidas informações prejudiciais à causa da revolução de 64 ou dados que lhe aprovveitariam. De qualquer modo, era uma questão que o próprio coronel, o único capaz de exumá-la, queria morta e enterrada. As águias do Ministério Público, todavia, tomaram o assunto para si, e o disco rígido talvez serviria para lançar mais luzes sobre o caso. A pergunta, porém, não é se a causa da vingança contra a ditadura pode ou não ser levada a cabo com sucesso. O que, antes de qualquer coisa, seria interessante saber é se há algum sentido em levá-la para frente.  Paulo Malhães talvez devesse ter entregado à comissão as informações dos anos de chumbo. Mas obrigá-lo a isso seria forçá-lo a dizer algo contra seus amigos de longa data. O interesse público, porém, nunca justifica um mal privado.

O que nem o caseiro nem ninguém mais quer é o que acontece. Informações que não servem senão para colorir de negro o passado do país virão à tona.  Manter as aparências não é só algo conveniente. As aparências são a asalvaguarda da verdade. A mancha que haverá nos livros de história da próxima geração não serão o verde e amarelo da bandeira nacional, mas sim o vermelho do sangue dos torturados.

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