Mayne Reid era filho de um pastor
presbiteriano que queria a mesma profissão para o filho. Os jovens, no entanto,
tem seus próprios sonhos e do pequeno Reyd era ser um aventureiro. Hoje essa
profissão pode parecer um tanto estranha, mas numa época em que guerras
pipocavam com uma frequência nada desprezível, esse métier se encontrava entre
a lista das vocações possíveis. O aventureiro se alistava como voluntário no
exército e ia lutar em guerras com a do Estados Unidos contra o México ou a da
Revolução da Bavária, como fez Reid. Nas horas vagas, ele também exerceu o
jornalismo.
Os Náugrafos do Igapó é um livro
de aventuras. Conta a história dos
viajantes de uma galatéia que se perdem numa floresta inundada entre as curvas
do Solimões. A galatéia se perde, e os náugragos, depois de perambularem
nadando ou pulando de árvore em árvore pelo Igapó à maneira de macacos,
encontram seu meio de transporte num tronco de monguba. O autor não vê problema
algum em parar a narração para descrever os animais e as plantas da Amazônia, e
eis aí um ponto alto do livro. E outro é a própria história, que é de fato
eletrizante. Mayne sabel levar a tensão ao limite sem que jamais a tragédia se
consume, como no episódio em que todos estão prestes a ser devorados por uma
anacandaia.
É certamente admirável a precisão da narrativa. Quando, ao fim do livro, dois
personagens que tinham tudo para serem inimigos fazem as pazes e entabulam um
diálogo em que disputam quem é capaz de contar a história mais fantasiosa, o
vencedor não é nenhum dos dois. É, antes, o próprio autor, que pinta um quadro
de peripécias extremamente verossímil. E não teria feito tal prodígio de ficção
se não falasse o tempo todo de um tema com o qual, como um protestante, ele tinha bastante intimidade: a autoridade.
Os persnagens não teriam ficado perdidos no
igapó se não fosse a timidez de um irlandês ante o seu superior. Quando o barco
se desviava, ele não o avisou a ninguém. Depois do naufrágio, Ralph, que era o reponsável
pela viagem como que cede o mando a um índio, que conhecia aquelas paragens
como ninugém mais. Ele teria mais conhecimento e, portanto, seria o chefe
ideal. Ralph permancesse, no entanto, como o guia espiritual dos aventureiros,
exortando-os a dar graças a Deus quando algo corre bem e pedir ajuda do alto
quando correm mal. Ora, era exatamente
isso que aconteceia com os que se separavam do anglicanismo. Aceitavam o trono
inglês como uma autoridade temporal, necessária por pela sua experiência de
governo, mas se submetiam ao mesmo tempo a um primado exclusivamente religioso.
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