sábado, 21 de junho de 2014

Os Náufragos do Igapó

Mayne Reid era filho de um pastor presbiteriano que queria a mesma profissão para o filho. Os jovens, no entanto, tem seus próprios sonhos e do pequeno Reyd era ser um aventureiro. Hoje essa profissão pode parecer um tanto estranha, mas numa época em que guerras pipocavam com uma frequência nada desprezível, esse métier se encontrava entre a lista das vocações possíveis. O aventureiro se alistava como voluntário no exército e ia lutar em guerras com a do Estados Unidos contra o México ou a da Revolução da Bavária, como fez Reid. Nas horas vagas, ele também exerceu o jornalismo.

Os Náugrafos do Igapó é um livro de aventuras.  Conta a história dos viajantes de uma galatéia que se perdem numa floresta inundada entre as curvas do Solimões. A galatéia se perde, e os náugragos, depois de perambularem nadando ou pulando de árvore em árvore pelo Igapó à maneira de macacos, encontram seu meio de transporte num tronco de monguba. O autor não vê problema algum em parar a narração para descrever os animais e as plantas da Amazônia, e eis aí um ponto alto do livro. E outro é a própria história, que é de fato eletrizante. Mayne sabel levar a tensão ao limite sem que jamais a tragédia se consume, como no episódio em que todos estão prestes a ser devorados por uma anacandaia.

É certamente admirável a precisão da narrativa. Quando, ao fim do livro, dois personagens que tinham tudo para serem inimigos fazem as pazes e entabulam um diálogo em que disputam quem é capaz de contar a história mais fantasiosa, o vencedor não é nenhum dos dois. É, antes, o próprio autor, que pinta um quadro de peripécias extremamente verossímil. E não teria feito tal prodígio de ficção se não falasse o tempo todo de um tema com o qual, como um protestante,  ele tinha bastante intimidade: a autoridade.

Os persnagens não teriam ficado perdidos no igapó se não fosse a timidez de um irlandês ante o seu superior. Quando o barco se desviava, ele não o avisou a ninguém. Depois do naufrágio, Ralph, que era o reponsável pela viagem como que cede o mando a um índio, que conhecia aquelas paragens como ninugém mais. Ele teria mais conhecimento e, portanto, seria o chefe ideal. Ralph permancesse, no entanto, como o guia espiritual dos aventureiros, exortando-os a dar graças a Deus quando algo corre bem e pedir ajuda do alto quando correm mal. Ora, era exatamente isso que aconteceia com os que se separavam do anglicanismo. Aceitavam o trono inglês como uma autoridade temporal, necessária por pela sua experiência de governo, mas se submetiam ao mesmo tempo a um primado exclusivamente religioso.

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