quinta-feira, 19 de junho de 2014

Na Calada da Noite

O Brasil oficial acha que o trabalho é mais estimulante se houver regulamentação. As leis são, de fato, um prevenção contra a deslealdade competitiva. Mas não há dúvida de que formalidade é estimulante somente para o governo, que assim financia seus programas assistencialistas, que por sua vez minam a autonomia do Brasil profundo, e para os advogados, que tornam esse processo lento.  A competição não é um fim em si mesma. Colocá-la como a última palavra é inverter a ordem do trabalho.  O seu João não faz pãos para vencer o seu Joaquim no mercado. Ambos panificam para alimentar os outros, isto é,  a sociedade.

Parece que quem não se importou muito nem com a sociedade nem com os outros foram os metroviários que entraram de greve. É um grupo pequeno que recebeu apoio de outros rebeldes cuja única causa atualmente é uma incógnita até para eles. Ninguém gosta desses, nem o governo nem a oposição. São detestados por gregos e baianos. E, no entanto, são os únicos que tem razão, ainda que incoscientemente. Se a Copa serve para alguma coisa, não é para melhorar a imagem do Brasil lá fora. Machado de Assis já fez isso sozinho. Se serve para algo, é para desviar a atenção de atos do governo que não seriam aprovados de outro modo. A calada da noite é o ambiente propício para os ladrões. Mas, nestes dias, um jogo de futebol poderá lhe fazer as vezes.

Por exemplo, não faz muito, o governo aumentou a carga tributária das atividades de risco. As empresas que operam na área de segurança, pela sua própria natureza, colocam na berlinda a saúde de seus funcionários, de modo que qualquer medida que busque eliminar a chance de um sinistro está fadada ao fracasso. A eliminação completa do risco de violência é tão possível quanto a transformação da USP numa monocultura de soja, e menos lucrativa. A consequência disso é clara. O monópolio da violência estatal levaria o Brasil rumo a ditadura.

Fomentar a segurança passaria por aliviar a carga tributárias dessas empresas. Isso já é possível. Basta que aqueles que tenham a iniciativa de prover a segurança da sociedade não regularizem seus negócios. É verdade, a informalidade acaba por gerar mais riscos. Mas viver é perigoso.  Seria mais producente se o governo tratasse essas sociedades como meras associações de lazer. Seus integrantes se reuniriam para treinar tiro e ouvir palestras sobre táticas militares e, depois,  fariam, como trabalhadores autômanos, a segurança do quarteirão.

Há riscos, porém, que não vale a pena assumir. Joseph Blatter reclamou da taxa de latrocínios no país, um crime particularmente estúpido. E esse clamor é repetido todos os dias. Quando Figueiredo se negou a construir estádios porque havia outras prioridades, era um dos últimos últimos estertores da ditadura, que pode ser definida como a surdez aos caprichos do povo. E um desses calha de ser a sede por justiça. O que o governo faz ao promover o aborto na rede pública é algo parecido ao crime deplorado pelo senhor Blatter. O bandido mata para roubar. O governo rouba para matar. O Brasil já manifestou sua intolerância à violência ao prender ao poste alguns mequetrefes e linchar uma mulher suspeita de magia negra. Mas não deixou claro, ainda, o que fará com os que assassinam seus filhos. O voto dele, porém, eles certamente não terão.

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