O Brasil oficial acha que o
trabalho é mais estimulante se houver regulamentação. As leis são, de fato, um prevenção
contra a deslealdade competitiva. Mas não há dúvida de que formalidade é
estimulante somente para o governo, que assim financia seus programas
assistencialistas, que por sua vez minam a autonomia do Brasil profundo, e para
os advogados, que tornam esse processo lento.
A competição não é um fim em si mesma. Colocá-la como a última palavra é
inverter a ordem do trabalho. O seu João
não faz pãos para vencer o seu Joaquim no mercado. Ambos panificam para
alimentar os outros, isto é, a sociedade.
Parece que quem não se importou
muito nem com a sociedade nem com os outros foram os metroviários que entraram
de greve. É um grupo pequeno que recebeu apoio de outros rebeldes cuja única
causa atualmente é uma incógnita até para eles. Ninguém gosta desses, nem o
governo nem a oposição. São detestados por gregos e baianos. E, no entanto, são
os únicos que tem razão, ainda que incoscientemente. Se a Copa serve para
alguma coisa, não é para melhorar a imagem do Brasil lá fora. Machado de Assis
já fez isso sozinho. Se serve para algo, é para desviar a atenção de atos do
governo que não seriam aprovados de outro modo. A calada da noite é o ambiente
propício para os ladrões. Mas, nestes dias, um jogo de futebol poderá lhe fazer
as vezes.
Por exemplo, não faz muito, o
governo aumentou a carga tributária das atividades de risco. As empresas que
operam na área de segurança, pela sua própria natureza, colocam na berlinda a
saúde de seus funcionários, de modo que qualquer medida que busque eliminar a
chance de um sinistro está fadada ao fracasso. A eliminação completa do risco
de violência é tão possível quanto a transformação da USP numa monocultura de
soja, e menos lucrativa. A consequência disso é clara. O monópolio da violência
estatal levaria o Brasil rumo a ditadura.
Fomentar a segurança passaria por
aliviar a carga tributárias dessas empresas. Isso já é possível. Basta que
aqueles que tenham a iniciativa de prover a segurança da sociedade não
regularizem seus negócios. É verdade, a informalidade acaba por gerar mais
riscos. Mas viver é perigoso. Seria mais
producente se o governo tratasse essas sociedades como meras associações de
lazer. Seus integrantes se reuniriam para treinar tiro e ouvir palestras sobre
táticas militares e, depois, fariam,
como trabalhadores autômanos, a segurança do quarteirão.
Há riscos, porém, que não vale a
pena assumir. Joseph Blatter reclamou da taxa de latrocínios no país, um crime
particularmente estúpido. E esse clamor é repetido todos os dias. Quando
Figueiredo se negou a construir estádios porque havia outras prioridades, era um
dos últimos últimos estertores da ditadura, que pode ser definida como a surdez
aos caprichos do povo. E um desses calha de ser a sede por justiça. O que o
governo faz ao promover o aborto na rede pública é algo parecido ao crime
deplorado pelo senhor Blatter. O bandido mata para roubar. O governo rouba para
matar. O Brasil já manifestou sua intolerância à violência ao prender ao poste
alguns mequetrefes e linchar uma mulher suspeita de magia negra. Mas não deixou
claro, ainda, o que fará com os que assassinam seus filhos. O voto dele, porém,
eles certamente não terão.
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